terça-feira, 30 de agosto de 2016

Circuitos elétricos em guitarras - parte II - Ligações Moderna e Vintage (50s), Treble Bleed e Controle de Tone de duas bandas

Ligação: Moderna x Vintage (50s)

 Adentrando mais especificamente nos diferentes tipos de circuitos pra guitarra, resolvi começar por dois circuitos que abrangem todo tipo de guitarra que possui controle de tone. Primeiramente, é necessário compreender as características dos componentes.
O controle de tone compreende um filtro passa baixa (low-pass filter), ou seja, um filtro de frequências agudas, que, no caso, é formado por um resistor variável (potenciômetro) e um capacitor. Este tem a função de determinar a frequência mínima de corte, enquanto o potenciômetro tem a função de determinar a quantidade desta faixa de frequência que é desviada para o terra (com a variação da resistência). Os capacitores são, em geral, de .022uF para humbuckers e .047uF para singles. O blog Loucos Por Guitarra, mais uma vez, fez um excelente post sobre capacitores, o qual recomendo a leitura (tenho capacitores à óleo por causa deles). Potenciômetros, por outro lado, podem ser de dois tipos: linear (B) e logarítmico (A), e apresentar dois valores de resistência máxima (para guitarra): 250K e 500K (300K também é um pouco comum de ver, sobretudo em P90). 
Potenciômetros de volume são sempre tipo A (nosso ouvido compreende o volume desta maneira – a escala decibel é logarítmica), caso contrário, o primeiro funcionará como uma espécie de liga/desliga.  O potenciômetro de tone é uma questão de gosto. Neste vídeo há uma demonstração das diferenças no uso de pots tipo A e B para o tone: 
Vale lembrar que o próprio pot é um tipo de filtro passa baixa, que quanto maior seu resistência total, menor a quantidade de agudos filtrada. Por isso valores de 250K e 500K são recomendados para singles, naturalmente mais agudos (brilhantes), e para humbuckers, naturalmente mais graves (encorpados), respectivamente.
As variantes do circuito começam quando a Gibson muda a posição em que o pot e o capacitor se conectam, no início da década de 60. Desta forma, denominou-se o circuito anterior como vintage wiring ou 50s wiring e o novo de modern wiring. A diferença dos circuitos está apenas no fato do primeiro apesentar conexão do capacitor na entrada 1 do pot de tone, enquanto a segunda a conexão é na entrada 2 (do meio). Caso queira se aprofundar na diferença de funcionamento dos circuitos, recomendo este post.
A discussão sobre a escolha do esquema de ligação, por sua vez, está centrada no fato de se perder agudos ao diminuir o volume e vice-versa. Acontece que quando giramos o pot de volume no sentido anti-horário, estamos desviando parte do sinal para o terra, diminuindo, assim, o volume. Mas quando fazemos isso não estamos desviamos todas frequências na mesma proporção, mas sim desviando mais as frequências altas (agudas). Quando giramos o tone, por desviarmos uma faixa de frequência para o terra, também temos uma perda de volume. Mas onde estes circuitos se encaixam nesta discussão? A diferença principal é que o 50s vintage wiring permite uma menor perda de agudos com a diminuição do volume, enquanto o modern wiring permite uma menor perda de volume com o aumento de corte do tone. Eu, particularmente, gosto do primeiro, pois gosto de trabalhar com a dinâmica (como deixar, quando uso Overdrive, o volume da ponte no 10 e o do braço no 6-7 para alternar guitarra rítmica e solo com a chave seletora) e prezo a preservação do timbre a baixos volumes (sem perda de agudos).

O que nem todas as pesquisas me mostraram, entretanto, é que existe uma outra diferença bem notável para além da relação volume x agudos, que é a de timbre mesmo. As guitarras com todos os knobs no 10 soam bem diferentes entre si! O som na ligação 50s fica mais transparente e aberto, enquanto na ligação moderna fica mais encorpada e aparentemente comprimida. Nas palavras da Premier Guitar (sobre adotar a ligação 50s): “O timbre geral fica mais forte e mais transparente. É difícil descrever, mas é mais "na cara”. O tom das Les Paul Burst do final dos anos 50 foi descrito como tendo um “bloom" - a forma como as notas abrem depois de deixar a guitarra que é difícil de alcançar sem essa ligação.”
Não precisamos perder tanto do nosso tempo tentando descrever, porque existe um ótimo vídeo que compara as diferenças:

Vale lembrar que estas configurações não estão restritas às guitarras tipo Gibson (Les Paul, ES-335, etc..) podendo instalar, também, em Stratocaster, Telecaster e qualquer outra guitarra com controle de tone

Treble Bleed

Dentro dessa discussão sobre perda de agudos com a redução do volume, tem-se uma solução para os adeptos da ligação moderna: o Treble Bleed.
Treble Bleed é um pequeno circuito constituído de um capacitor e um ou nenhum resistor, que consiste em um high pass filter, um filtro que só deixa passar frequências mais agudas, para contrapor o low pass filter do circuito normal do tone. O Treble Bleed (Simple Treble Bleed) pode ser feito de três formas distintas: apenas um capacitor, um resistor em paralelo com um capacitor (Seymour Duncan’s Treble Bleed) e um resistor em série com um capacitor (Kinman’s Treble Bleed).

A escolha dos valores do capacitor e do resistor é bem pessoal, de acordo com seu ouvido e o que almeja com o Treble Bleed, e depende da guitarra também, podendo usar os valores-padrão encontrados na internet como ponto de partida. Em geral, quanto maior o valor do capacitor, mais “magro” fica o som quando se diminui o volume. Essa “magreza” pode deixar o timbre até meio artificial, sobretudo para humbuckers. Por experiência própria, experimentei o Simple Treble Bleed com valor de capacitor já bem abaixo do valor recomendado (680pF ao invés de 1000pF) e mesmo assim achei que ficou muito artificial. Por este motivo e por outros acabei mudando para a ligação vintage (numa Epiphone Dot). Este vídeo (este canal é sensacional, repare que é o mesmo do vídeo que compara capacitores de diferentes materiais, presente no final do post de capacitores do blog Loucos Por Guitarra) compara capacitores de diferentes valores como Treble Bleed:

          Controle de Tone de duas bandas: G&L Legacy "PTB" e Fender TBX

A sigla PTB vem do inglês passive treble and bass (agudos e greves passivos) e explica bem o quefaz: são dois tones em que um corta as frequências graves e outro as agudas. O circuito é muito útil com saturação (overdrive, distortion ou fuzz), pois a clipagem de graves é um ponto importante nestes casos. Segue o link. 

A Fender foi além e colocou o PTB em apenas um knob (a partir de um pot stacked - dois potenciômetros em um). Chamado de TBX, o circuito funciona de forma que, a partir do 5 no knob, corta frequências agudas (como um tone normal) ou graves (está aí a surpresa) dependendo do sentido em que se gira. Está presente na Fender signature do Eric Clapton e à venda individualmente também. Existem modificações propostas na enciclopédia de modificações de circuitos elétricos de guitarra que é a Premier Guitar (basta ver a quantidade de links deles que coloquei nos posts desta série).
E aí já definiu qual vai ser o esquema de ligação da sua guitarra? E o Treble Bleed, vai ter? Qual? E PTB? Ou TBX? Hahahaha os guitarristas e suas dúvidas...

Nos vemos no próximo post!

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