terça-feira, 8 de novembro de 2016

Entrevista com Éder Martins


Olá pessoal, é com honra que eu trago a vocês um jovem e grande guitarrista e “timbrista” do cenário paulistano: Éder Martins.

Conheci o Éder em uma festa na USP em que ele estava tocando com sua banda Electric Hendrix Tribute no Palco do Lago (esse lugar merece um post próprio). A semelhança física com o maior guitarrista de todos os tempo, o visual à caráter (incluindo uma strato branca de escala clara à lá a de Woodstock) e a performance da banda foram extremamente marcantes. Com certeza um dos maiores shows que vi na faculdade. Mais tarde, com o sucesso do projeto Jazz na Kombi, o vi novamente em grandes performances, desta vez na minha timeline do Facebook. A cartada final foi ver algumas fotos em que ele empunhava duas dais mais lindas guitarras vintage brasileiras que já: entrevistá-lo se tornou obrigação.   

Guitarra Timbrada:
Éder, seu currículo é extenso tanto em formação quanto em carreira. Nos fale da sua trajetória como estudante de guitarra e como guitarrista.
Éder Martins:
O interesse pela guitarra começou na adolescência: o meu irmão mais velho tocava violão, daí quando ele não estava tocando eu pegava o violão escondido (rs) e foi assim que aprendi a dedilhar os primeiros acordes. Ainda nessa época fiz algumas aulas particulares com professores da minha cidade.
Alguns anos depois entrei para o coral da cidade e comecei a estudar canto coral, depois canto lírico e depois ingressei no CDMCC (Conservatório Musical Dr. Carlos de Campos de Tatuí) agora sim no curso de Guitarra.
As atividades que exercia profissionalmente nessa época era dar muitas aulas de guitarra e violão, tocar e cantar numa banda de Heavy Metal, às vezes, fazia também violão e voz pelos bares da região.
Depois que saí do Conservatório, me mudei pra São Paulo, continuei minhas atividades com aulas particulares e toquei em bandas de Rock, MPB e Psicodélicas.
Em 2009, um ano depois que vim pra São Paulo, formei a Banda Electric Hendrix Tribute (Tributo à Jimi Hendrix). Atualmente, dou aulas particulares de guitarra, toco e/ou acompanho nas bandas Tonico Reis, La Moustache e Chaiss na Mala, além da E.H.T, claro.”
GT:
O projeto Jazz na Kombi ganhou muito destaque no meio artístico jovem paulistano. De que forma você acha que o jazz se aproxima de suas raízes com este projeto?
Éder Martins:
“O jazz, ao longo do tempo, teve seu movimento elitizado, onde só era possível assisti-lo e apreciá-lo em grandes salas de concerto/Bares, a preços altíssimos e consumido em maior parte pela burguesia, se esquecendo da sua origem: as ruas, o gueto, a roça...que foi da onde surgiram os primeiros instrumentistas que os concretizaram.
Com o surgimento do jazz na Kombi e suas referentes bandas que participam, resgatou-se o que foi plantado pelas raízes do jazz, ocupando ruas, praças, vielas, favelas, e, melhor ainda, sem custo algum. Crianças, jovens e adultos assistindo grandes concertos de grandes bandas da cena musical instrumental paulistana, tanto de bandas novas quanto da velha guarda, além de artistas internacionais consagrados.
Acho que isso é o que concretiza a aproximação das minhas raízes: o resgate de um movimento cultural e artístico priorizando a música negra e que tem de se expandir mais e mais...”
GT:
O que você acha que mais aprendeu com o Jazz na Kombi?
            Éder Martins:
“Acho que o reforço do espírito coletivo para realização de tal...e a troca de informações obtidas com os músicos que participam, tanto com quem está executando  quanto com quem está observando. Obs: e um aprendizado grandioso.”
GT:
Quais são os guitarristas em que você mais se inspira e por quê?
            Éder Martins:
“Nossa!! São muitos (rs)... lá vai: George Benson, John Mclaughlin, Wes Montgomery, Pat Metheny, Allan Holdsworth, Joe Pass, John Scofield, Steve Vai, Jimi Hendrix, John Lee Hooker, George Harrison, David Gilmour, Helio Delmiro, Ari Piassarollo, Kiko Loureiro, Mozart Mello, Heraldo do Monte, Lanny Gordin, Pepeu Gomes, Tony Iommi, Fabio Leal, John Petrucci e  Toninho Horta... porque como eu acostumei a escutar  e  a  estuda-los, são os principais que eu aciono  em processos de composição, mas pode ir além dos guitarristas citados. Escuto muitos sons, barulhos, ruídos na rua e isso pode me influenciar também.”
GT:
Seus trabalhos vão muito além dos citados, de que forma você acha que eles influenciam seu modo de tocar? Existe algum exemplo (riff, dedilhado, rítmico) desta(s) influência(s) no seu modo de tocar?
             Éder Martins:
“Sim, influenciam nas mais variadas formas de tocar, quer seja no timbre, quer na levada, rítmica ou riffs e improvisos. Tem um exemplo de timbre na terceira faixa do disco do Afrodisia, do Chaiss Quinteto, “Double Face”, principalmente lá pelos 2:58 onde começa o solo de guitarra. Acho que ficou bem próximo ao timbre de guitarra do Allan Holdsworth. A faixa e o disco podem ser escutados no YouTube.”
GT:
Você acredita possuir alguma “assinatura guitarrística”? Se sim, qual?
Éder Martins:
“Acredito que sim. Acho que a voz transposta pra guitarra...a voz te expande em vários horizontes na guitarra, seja nos fraseados ou nos acordes em aberturas e inversões. Há quem diga que a guitarra é o instrumento mais próximo da voz.”
GT: Mudando para o assunto timbre, qual o seu set de pedais (é fixo ou varia) e de que forma você os usa?
Érico Martins:
“Então, alguns tempos atrás eu variava mais. No começo da E.H.T, por exemplo, eu usava só a distorção do próprio amplificador com Wha Wha Cry Baby, e, às vezes, com um fuzz e um delay também. Hoje eu uso um ME50, processador de efeitos da Boss, e a forma que eu uso depende das bandas que toco. Algumas já deixo ele regulado com os efeitos que utilizei nas gravações do disco, como nas músicas do Tonico Reis, ou na la Moustache. Na E.H.T e no Chaiss na Mala, que são bandas mais livres na questão de improviso, às vezes eu misturo um efeitos na hora e fica bem louco. Na USP tem vários pássaros e eu queria reproduzir o efeito de algum deles que ficam na praça do relógio. Consegui um som parecido num show da E.H.T, totalmente de improviso na Boss, não programei nada...(rs)”
GT:
Qual (is) amplificador(es) você usa (em casa e/ou apresentações) e o que gosta nele(s)?
Éder Martins:
“Em casa um Peavey simples de 60W, mas pra estudar eu gosto mais de tocar com a semi-acústica desligada sem amplificador ou efeitos. Gosto muito daquele timbre do Joe Pass de alguns discos que ele gravou sem amplificador, só com a guitarra microfonada. Em shows uso um Fender Frontman 212R, e, às vezes, um Orange Crush 60W. Do Fender, o que eu gosto mais é o timbre limpo, pois os efeitos são bem fracos comparado aos Fender mais antigos. Do Orange eu gosto muito do som crush, lógico que regulado no ganho, fica muito legal usar ele sem efeito, também. A distorção do Orange também me agrada, misturado com outro efeito tipo chorus que eu adoro! fica bem louco.”
GT:
Vi que você tem várias guitarras. Quais são elas e o que gosta nelas?
Éder Martins:
“São quatro: Snake Modelo Strato, Giannini Diamond, Condor Flying V (captadores trocados), e uma strato Cort com captadores Fender Custom Shop 69. A Condor tem bastante peso em relação ao som. Eu usava bastante ela na E.H.T afinada meio tom abaixo e com distorção fica muito Power: as notas ressoam por muito tempo tanto melodicamente quanto harmonicamente, e muito boa para feedbacks. Gosto muito do som limpo e do braço dela também. A Cort também gosto muito do timbre para sons Hendrix e algo mais funk e groove.”


GT:
Vi que você tem algumas guitarras brasileiras vintage. De onde nasceu esse interesse pelos instrumentos antigos?
Éder Martins:
“Exatamente, tenho duas, a Snake 1960 e a Giannini Diamond 1968, pela paixão no som que escuto desde moleque em bandas e timbres como: Beatles, Chuck Berry, Mutantes... e muitas outras.”
GT:
Nos fale sobre eles, detalhes que você gosta nelas e a história de como as adquiriu.
            Éder Martins:
“A Giannini Diamond é de 1968 e a Snake Modelo Strato é de 1960, essa última com captadores Gretsch. Gosto da versatilidade de timbres, da pintura, do braço super confortável para a execução. Comprei do meu brother Rob que toca comigo e que era colecionador de guitarras vintage brasileiras.”


GT:
Qual foi a sua apresentação favorita e por quê?
            Éder Martins:
“É difícil lembrar (rs), mas uma delas foi na USP em 2012, na festa junina da FAU, com a banda já extinta “Maria e os Treze”, e outra recentemente num bar na augusta com a E.H.T. Acho que foram apresentações em que fomos além do convencional na música.”
GT:
Para finalizar, Beatles ou Rolling Stones?
Éder Martins:
“Adoro os dois, mas escolho Beatles, porque me acompanha desde moleque e sou apaixonado pela música, estrutura das composições, timbres, produção, em que cada audição é algo novo.”
           

Alguns trabalhos de Éder Martins (inclusive os citados por ele) e com suas guitarras em ação:



 Nos vemos no próximo post!

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Os Principais Componentes no Timbre de uma Guitarra


O post de hoje é uma compilação de pesquisas minhas, sobretudo sonoras com vídeos do YouTube, 
sobre a influência de características das guitarras na determinação de seu timbre típico. O foco é entender quais são as características mais determinantes no timbre da guitarra, que, neste caso, decidi restringir às Fender e Gibson de corpo sólido, no intuito de minimizar as variáveis. As características analisadas são basicamente construção, hardware, captadores e madeiras, em ordem de relevância.

            1º - Junção do braço: esta foi a característica que considerei mais influente no timbre. Analisando guitarras das marcas Fano e Reverend que misturam as características de Gibson e Fender em seus modelos, aquelas que apresentam braço bolt­-on, por mais que apresentassem ponte tune-o-matic e/ou captação P90/humbucker e/ou corpo e braço em mogno (ou similar como korina) e/ou escala mais curta e/ou headstock angulado, todas características das Gibson, ainda possuem um timbre mais cristalino, transparente e brilhante das Fender. Um exemplos é a Fano SP6 uma Les Paul Junior (podendo ser toda em mogno com escala em rosewood, como a do vídeo abaixo) com braço bolt-on e ponte e captador da ponte de telecaster. Obviamente, fiquei restrito ao timbre do P90 do braço e é bem verdade que a ponte colabora muito na proximidade, mas, de qualquer forma, o timbre Fender predomina na posição braço também. Outro exemplo é a Reverend Double Agent, com captadores P90, ponte tune-o-matic, mas com braço bolt-on de maple, onde predomina a Fender novamente. 

Como timbre de guitarra não é uma ciência exata, não foram poucas as exceções, tal como a Revernd Charger HB, humbuckers, ponte tune-o-matic, corpo de korina e braço bolt-on em maple, cujo timbre está mais próximo de uma Gibson, e da Reverend Warhawk, captadores P90, ponte tune-o-matic, corpo de korina e braço de maple set-in com sonoridade mais Fender.



            2º - Captadores: considerados a alma das guitarras eles realmente fazem a diferença, sobretudo se compararmos tipos diferentes, tais como singles, P90 e humbuckers. Um exemplo é a da Reverend Charger HB citado acima. São uma boa ferramenta pra dar um timbre mais Gibson a sua Fender e vice-versa, mas não se sobrepõe à construção: uma Stratocaster com PAFs continuará soando como Stratocaster e uma Les Paul com singles como uma Les Paul (não faça isso), mas uma Stratocaster com captador da ponte de Telecaster vai te dar algo bem próximo da última. Um exemplo é o captador para Stratocaster chamado Twang Banger, da Seymour Duncan, que, assim como os captadores da ponte de Telecaster, possui uma chapa metálica de cobre em sua base:

            3º - Madeira do braço: motivo, na minha opinião, de algumas guitarras da/tipo Gibson poderem soar mais abertas e cristalinas, e que provavelmente, junto à captação P90 (que é invenção da Gibson mas que é single por definição), fez Revernd Warhawk soar mais Fender. Entretanto, em guitarras tipo Fender essa diferença é um tanto menor, basta ouvir diversas guitarras brasileiras de timbre semelhante que usam outras madeiras como Marfim e Imbuia.
            4º - Madeira da escala: enquanto a madeira do braço encontra-se numa zona entre média influência no timbre, a madeira da escala se encontra na de média-baixa influência, alterando sobretudo o ataque e a sustentação de uma faixa de frequências mais alta ou mais baixa, tomando como base as diferenças entre maple e rosewood. Esse vídeo mostra bem a diferença.

            5º - Madeira do corpo: tão polêmica, é, para mim, de influência baixa no timbre. Apesar de um falado estudo dizer que elas não influenciam, acredito que o primeiro se baseou muito mais no quesito de sustain do que no timbre especificamente, de forma que a diferença é perceptível mas menor que as demais citadas acima. Inúmeros são os exemplos de guitarras com corpos de outras madeiras que continuam soando como deveriam, entretanto a comparação de madeiras com características bem distintas evidencia que a madeira do corpo altera sim o timbre, como no vídeo do Érico Malagoli (da Malagoli Captadores).

Conclusões: fiquei com a impressão de que as guitarras tipo Gibson apresentam maior influência das madeiras na sonoridade. Acredito que a angulação do headstock, que promove maior pressão das cordas sobre o braço, e o fato do braço ser colado, que melhora a vibração do conjunto braço+corpo, tenham interferência direta neste fator. A ponte nas Fender, entretanto, parecem ser muito mais participativas no timbre do que a passiva tune-o-matic das Gibson: o bloco de aço da ponte das Stratocaster é determinante na transmissão de vibração das cordas pra guitarra e a chapa de metal da ponte das Telecaster tem forte interação magnética com o captador desta posição. Dessa forma, acredito que para uma guitarra tipo Fender, se ela não apresentar madeiras muito fora do espectro desejado (tal mogno que realça muito os médio-graves e oprimi os médio agudos), o investimento em uma boa ponte e bons captadores já te darão um resultado excelente. Madeiras brasileiras como jacarandá, pau-marfim, para substituir o maple, ipê, para substituir o ébano, pau-ferro, algo entre jacarandá e ébano, freijó e marupá, para substituir ash e alder, são excelentes pedidos, sobretudo quanto ao investimento e à procedência. O cedro é um caso à parte devido às polêmicas dos posts do Loucos Por Guitarra. Entendo que eles não gostem devido à deficiência em médio-agudos, talvez a faixa de frequência que é a “assinatura” das guitarras Fender, mas creio que a comparação com ash e alder seja um equívoco. O cedro tende a ressaltar os médio-graves, similarmente ao mogno, porém com menos intensidade, portanto ele deveria ser comparado justamente ao mogno, ou ser utilizado quando se procura algo mais equilibrado e menos brilhante nas Stratocaster e Telecaster. Este é um dos fatores, na minha opinião, que dá qualidade e personalidade às Giannini Stratossonic e Supersonic (as que usam corpo em cedro, claro): um timbre equilibrado sem abrir mão do cristalino e do ataque com captadores single.


            Como pode se ver, a influência dos componentes de uma guitarra no seu timbre está longe de ser algo fácil de se determinar e ainda mais utópico se formos considerar nossos diferentes gostos. Essa é a minha opinião nas pesquisas que tenho feito, qual a sua? 

Deixe o seu comentário e nos vemos no próximo post!