Ligação: Moderna x Vintage (50s)
Adentrando mais especificamente nos
diferentes tipos de circuitos pra guitarra, resolvi começar por dois circuitos
que abrangem todo tipo de guitarra que possui controle de tone. Primeiramente, é necessário compreender as características
dos componentes.
O controle de tone compreende um filtro passa baixa (low-pass filter), ou seja, um filtro de frequências agudas, que, no
caso, é formado por um resistor variável (potenciômetro) e um capacitor. Este
tem a função de determinar a frequência mínima de corte, enquanto o
potenciômetro tem a função de determinar a quantidade desta faixa de frequência
que é desviada para o terra (com a variação da resistência). Os capacitores são,
em geral, de .022uF para humbuckers e
.047uF para singles. O blog Loucos
Por Guitarra, mais uma vez, fez um excelente post sobre capacitores, o qual recomendo a leitura (tenho
capacitores à óleo por causa deles). Potenciômetros, por outro lado, podem ser
de dois tipos: linear (B) e logarítmico (A), e apresentar dois valores de
resistência máxima (para guitarra): 250K e 500K (300K também é um pouco comum
de ver, sobretudo em P90).
Potenciômetros de volume são sempre tipo A (nosso
ouvido compreende o volume desta maneira – a escala decibel é logarítmica),
caso contrário, o primeiro funcionará como uma espécie de liga/desliga. O potenciômetro de tone é uma questão de gosto. Neste vídeo
há uma demonstração das diferenças no uso de pots tipo A e B para o tone:
Vale lembrar que o próprio pot é um tipo de filtro passa baixa, que
quanto maior seu resistência total, menor a quantidade de agudos filtrada. Por
isso valores de 250K e 500K são recomendados para singles, naturalmente mais agudos (brilhantes), e para humbuckers, naturalmente mais graves
(encorpados), respectivamente.
As variantes do circuito começam
quando a Gibson muda a posição em que o pot
e o capacitor se conectam, no início da década de 60. Desta forma, denominou-se
o circuito anterior como vintage wiring ou 50s wiring e o novo de modern wiring. A diferença dos circuitos
está apenas no fato do primeiro apesentar conexão do capacitor na entrada 1 do pot de tone, enquanto a segunda a conexão é na entrada 2 (do meio). Caso
queira se aprofundar na diferença de funcionamento dos circuitos, recomendo
este post.
A discussão sobre a escolha do esquema
de ligação, por sua vez, está centrada no fato de se perder agudos ao diminuir
o volume e vice-versa. Acontece que quando giramos o pot de volume no sentido anti-horário, estamos desviando parte do
sinal para o terra, diminuindo, assim, o volume. Mas quando fazemos isso não estamos
desviamos todas frequências na mesma proporção, mas sim desviando mais as
frequências altas (agudas). Quando giramos o tone, por desviarmos uma faixa de frequência para o terra, também
temos uma perda de volume. Mas onde estes circuitos se encaixam nesta discussão?
A diferença principal é que o 50s vintage
wiring permite uma menor perda de agudos com a diminuição do volume,
enquanto o modern wiring permite uma
menor perda de volume com o aumento de corte do tone. Eu, particularmente, gosto do primeiro, pois gosto de
trabalhar com a dinâmica (como deixar, quando uso Overdrive, o volume da ponte
no 10 e o do braço no 6-7 para alternar guitarra rítmica e solo com a chave
seletora) e prezo a preservação do timbre a baixos volumes (sem perda de
agudos).
O que nem todas as pesquisas me
mostraram, entretanto, é que existe uma outra diferença bem notável para além
da relação volume x agudos, que é a de timbre mesmo. As guitarras com todos os
knobs no 10 soam bem diferentes entre si! O som na ligação 50s fica mais
transparente e aberto, enquanto na ligação moderna fica mais encorpada e aparentemente
comprimida. Nas palavras da Premier Guitar (sobre adotar a ligação 50s): “O timbre geral fica mais forte e mais
transparente. É difícil descrever, mas é mais "na cara”. O tom das Les
Paul Burst do final dos anos 50 foi
descrito como tendo um “bloom" - a forma como as notas abrem depois de
deixar a guitarra que é difícil de alcançar sem essa ligação.”
Não precisamos perder tanto do nosso tempo
tentando descrever, porque existe um ótimo vídeo que compara as diferenças:
Treble Bleed
Dentro dessa discussão sobre perda de agudos
com a redução do volume, tem-se uma solução para os adeptos da ligação moderna:
o Treble Bleed.
Treble
Bleed é um pequeno circuito
constituído de um capacitor e um ou nenhum resistor, que consiste em um high pass filter, um filtro que só deixa
passar frequências mais agudas, para contrapor o low pass filter do circuito normal do tone. O Treble Bleed (Simple Treble
Bleed) pode ser feito de três formas distintas: apenas um capacitor, um
resistor em paralelo com um capacitor (Seymour
Duncan’s Treble Bleed) e um resistor em série com um capacitor (Kinman’s Treble Bleed).
A escolha dos valores do capacitor e do
resistor é bem pessoal, de acordo com seu ouvido e o que almeja com o Treble Bleed, e depende da guitarra
também, podendo usar os valores-padrão encontrados na internet como ponto de
partida. Em geral, quanto maior o valor do capacitor, mais “magro” fica o som
quando se diminui o volume. Essa “magreza” pode deixar o timbre até meio
artificial, sobretudo para humbuckers.
Por experiência própria, experimentei o Simple
Treble Bleed com valor de capacitor já bem abaixo do valor recomendado
(680pF ao invés de 1000pF) e mesmo assim achei que ficou muito artificial. Por
este motivo e por outros acabei mudando para a ligação vintage (numa Epiphone Dot). Este vídeo (este canal é sensacional,
repare que é o mesmo do vídeo que compara capacitores de diferentes materiais, presente
no final do post de capacitores do
blog Loucos Por Guitarra) compara capacitores de diferentes valores como Treble Bleed:
Controle de Tone de duas bandas: G&L Legacy "PTB" e Fender TBX
A sigla PTB vem do inglês passive treble and bass (agudos e greves passivos) e explica bem o
quefaz: são dois tones em que um corta as frequências graves e outro as agudas. O circuito é muito útil com saturação (overdrive, distortion ou fuzz), pois a clipagem de graves é um ponto importante nestes casos. Segue o link.
A Fender foi além e colocou o PTB em apenas um knob (a partir de um pot stacked - dois potenciômetros em um). Chamado de TBX, o circuito funciona de forma que, a partir do 5 no knob, corta frequências agudas (como um tone normal) ou graves (está aí a surpresa) dependendo do sentido em que se gira. Está presente na Fender signature do Eric Clapton e à venda individualmente também. Existem modificações propostas na enciclopédia de modificações de circuitos elétricos de guitarra que é a Premier Guitar (basta ver a quantidade de links deles que coloquei nos posts desta série).
A Fender foi além e colocou o PTB em apenas um knob (a partir de um pot stacked - dois potenciômetros em um). Chamado de TBX, o circuito funciona de forma que, a partir do 5 no knob, corta frequências agudas (como um tone normal) ou graves (está aí a surpresa) dependendo do sentido em que se gira. Está presente na Fender signature do Eric Clapton e à venda individualmente também. Existem modificações propostas na enciclopédia de modificações de circuitos elétricos de guitarra que é a Premier Guitar (basta ver a quantidade de links deles que coloquei nos posts desta série).
E aí já definiu qual vai ser o esquema de ligação da sua
guitarra? E o Treble Bleed, vai ter? Qual? E PTB? Ou TBX? Hahahaha os
guitarristas e suas dúvidas...
Nos vemos no próximo post!
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