Há meses tenho me controlado para
evitar comprar mais equipamento (G.A.S
atacando como sempre). Uma das estratégias que encontrei foi a de pesquisar
como extrair diferentes timbres a partir do equipamento que já possuo. Umas das
grandes linhas desta pesquisa se tornou a de tipos de ligação de captadores em
uma guitarra, podendo adiquir vários timbres diferentes sem necessariamente
mudar a guitarra ou mesmo a captação. Como essa linha é vasta, resolvi dividir
em vários posts, em que este, o
primeiro, tratará de um brevíssimo resumo do funcionamento de um captador e de
princípios físicos de elétrica e ondulatória.
O experimento de Faraday |
Pois bem, um experimento essencial
para a compreensão da criação do captador de guitarra é responsável pela Lei de
Indução de Faraday. Este cientista, Faraday, notou que era possível induzir
corrente elétrica em um solenoide/bobina (sólido vazado formado por um fio condutor em torno de um eixo) ao
oscilar o campo magnético em seu interior. Tal oscilação era gerada, no
experimento, pelo descolamento de um imã, como mostra a figura ao lado.
A constituição de um captador single |
Este
princípio é usado nos captadores. Usando os captadores de uma bobina (singles e P90) tradicionais (de alnico)
como exemplo, seus pinos são ímãs inseridos em uma bobina. As cordas metálicas,
ao oscilar, interagem com os pinos, oscilando, também o campo magnético no
interior da bobina. Como no experimento, isto promove a indução de corrente
elétrica na bobina, que é transmitida até o jack.
Imagine, agora, essa oscilação do campo magnético como uma onda: ora o campo
magnético está forte, ora fraco; sobre e desce. Dessa forma, a transmissão de
corrente elétrica também pode ser compreendida como a transmissão de uma onda,
conceito que será importante daqui pra frente.
Pois
bem, quando enrolamos duas bobinas em sentidos opostos (anti-horário e horário)
e as colocamos sob a mesma variação de campo magnético (às mesmas cordas
vibrando) o que acontece é que geramos duas ondas (uma para cada bobina) com fases
opostas. A diferença de fase é a diferença de tempo ou distância entre duas
ondas, que pode ser resumidamente explicada assim:
Ondas fora de fase |
- Imagine duas ondas iguais caminhando juntas; subindo e descendo
juntas. Agora imagine que uma começou a caminhar antes da outra. Elas estarão
descompassadas, ou seja, quando umas estiver no topo (ou no vale) a outra não
estará e vice-versa.
Quando
as fases são opostas quer dizer que enquanto uma onda atinge seu pico, a outra
atinge seu vale, e vice-versa. Acontece que quando duas ondas de fases opostas
se encontram, se anulam. Pois é, muita física só pra explicar que duas bobinas
enroladas em sentido contrário e sob a mesma vibração de cordas anulam
frequências (ondas) entre si (desculpem mas achei que valia à pena explicar).
Adição de ondas de fases opostas resultando em anulação |
Figura-resumo das observações de Seth Lover - retirado do artigo da SD |
Nas pesquisas de Seth Lover, na época engenheiro da Gibson, isso tinha um lado
bom e um lado ruim. O lado bom é que resolvia o problema ao qual foi destinado
a resolver: sumir com o ruído dos captadores de uma bobina (P90 no caso). Por
outro lado, criava o problema do captador ficar mudo (anulação total das
frequências). Ele observou, entretanto, que se a polaridade do ímã de uma das
bobinas fosse invertida, apenas o sinal captado das cordas ficava com fase
oposta. Consequentemente, concluiu, assim como muitos de vocês devem estar
fazendo agora, que duas bobinas tivessem polaridade de ímã e enrolamento
opostos, o ruído seria anulado e o sinais das cordas não.
O captador humbucker |
A última grande
sacada deste gênio foi colocar um mesmo ímã para as duas bobinas, de forma que
a posição de cada uma no captador fosse suficiente que os campos magnéticos em
cada uma fossem opostos. Estava criado o humbucker,
que vem de “buck the hum” (cancelar o
zumbido)! Tudo isso está muito bem explicado neste e neste artigos da Seymour Duncan.
Em
guitarras tipo stratocaster, as posições 2 e 4 também apresentam cancelamento
de ruídos pelo mesmo princípio, porém com o captador do meio apresentando enrolamento
e ímã de polaridade reversos (já que não é um ímã só para duas bobinas),
conhecido como RWRP (Reverse-Wound and
Reverse Polarity). O mesmo acontece para as posições do meio de Telecaster
e Les Paul (sim, dá pra fazer isso entre dois humbuckers). Todos esses timbres se incluem no timbre “fora de fase”
(out-of-phase).
Além do
conceito de fora-de-fase é necessário compreender o de série-paralelo.
Revivendo, novamente, a física do colegial temos a resistência equivalente.
Resistência equivalente é aquela que pode representar dois ou mais resistores
em um circuito. Seu valor, entretanto, depende da forma que associamos estes
resistores, podendo ser em série ou em paralelo. Quando em associados em série,
a resistência equivalente aumenta (corresponde à soma de ambos), quando em
paralelo, ela cai (seu inverso é a soma dos inversos das resistências
associadas). Sabendo que bobinas são resistências e que quanto maior seu valor maior
é o sinal de saída deles (sinal de entrada/ganho de entrada no amplificador ou
pedais), associação em série nos dá um timbre com maior ganho e mais gordo e macio
enquanto em paralelo nos dá um som de menor ganho, mais magro e brilhante.
Tradicionalmente, as bobinas em um humbucker
estão ligadas em série, enquanto a ligação padrão entre diferentes captadores (humbuckers ou não) numa mesma guitarra
(Telecaster, Stratocaster, Les Paul) é em paralelo. A associação tradicional fora
de fase (com cancelamento de frequências) e em paralelo (com queda da
resistência) das posições 2 e 4, da Stratocaster, e meio, da Telecaster e Les
Paul, explicam a pequena queda de ganho nestas posições.
Os primeiros
circuitos que vocês verão nos próximos posts
se resumem a diferentes associações entre captadores, entre bobinas em um mesmo
captador e entre bobinas de diferentes captadores.
Nos
vemos no próximo post!
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