Começa
hoje uma série de posts sobre
guitarras antigas que adquiri. Foi mais de um ano que este blog ficou sem publicar e muita coisa ocorreu neste meio tempo, principalmente
com instrumentos, cujas reformas, procura de peças, negociações, entre outras
coisas, me tiraram o tempo de escrever aqui. Não só volto, entretanto, como
retorno falando de muita coisa legal!
Resolvi
começar essa série a partir de um sonho antigo. Desde que comecei a pesquisar
sobre instrumentos antigos brasileiros, caí na graça, como tantos, da Giannini
Supersonic. Esta guitarra é uma das mais simbólicas, se não o holy grail, das produções brasileiras
antigas, por sua originalidade, qualidade e sucesso (sendo a primeira e
principal guitarra do Edgar Scandurra, por exemplo). A história desse modelo no
Brasil e de seus amantes merece um post
especial, que, portanto, não aprofundarei aqui.
Voltando
ao meu exemplar em específico, gosto de dizer que minhas guitarras preferidas não fui eu
quem foi atrás delas, mas sim as próprias que vieram até mim. Na manhã do meu
aniversário, estava despretensiosamente olhando o Facebook quando dei de cara com um anúncio de venda de corpo,
braço, ponte e knobs de uma Giannini
Supersonic do final da década de 60, período de produção mais prestigiado para
este modelo. Foi a deixa para a compra do meu presente de 24 anos. Como se não
bastasse tudo isso, o vendedor era ninguém menos que o excelente músico e aficionado
por instrumentos brasileiros antigos Fernando Temporão, o qual tinha ouvido
falar justamente uma semana antes nesta publicação do blog Minha Guitarra de Cedro do meu amigo e vizinho Gabriel
Longhitano. As coincidências foram suficientes para afirmar que Eva, nome o qual
batizei após literalmente sonhar com a guitarra com esse nome, veio até mim por
puro instinto.
Foto do Fernando Temporão quando o braço estava à venda. Nota-se a escala bem suja
Corpo
maciço em Cedro apenas envernizado (natural é a melhor pintura, sempre, no
máximo um tingimento), braço em peroba muito gordo e redondo (melhor impossível),
escala em jacarandá-da-bahia lindíssima, knobs
e plate numerado que são a parte mais
bonita da guitarra. Para completá-la comprei captadores Fender Pure Vintage 65’
(não vieram com os originais sextavados do Seu Vitório, infelizmente), que
também merecem um post exclusivo, um
lindo escudo creme feito pelo Rafael Lopes Luthier, elétrica 50s wiring com capacitor à óleo Cherry
.47 uF, também nacional, potenciômetros Alpha e blindagem e tarraxas vintage
Wilkison EZ Lok (foi complicado encaixar mas entraram). O nut e os trastes jumbo foram serviços da LPG Luthieria do
sempre prestativo e gente fina Paul.
A
guitarra tem um timbre bem aberto, mais do que todas as guitarras que tive
incluindo a Etna, com corpo de Swamp Ash. Entendo os comentário do blog Loucos Por Guitarra quando afirmam
a falta de médios do cedro, mas isso é fator importante para deixar o timbre
mais aberto e cristalino do que em outras guitarras Fender. O braço de peroba,
madeira duríssima, também deve ter papel importante nesta “abertura” de timbre. Eu
particularmente gostei muito, sobretudo da posição braço+ponte (que nas strato de
fábrica não existe, veja só) fora de fase que fica em algo entre telecaster e
jaguar. A ponte original é big block
em aço, que, junto ao corpo leve e provavelmente bem seco (afinal são 50 anos
de história) fazem tudo vibrar intensamente e ter ótimo sustain. A guitarra respira e vive! Mais tarde consegui um case original da Giannini, de um modelo anterior da Supersonic, com o Gabriel Coriolano do blogEstúdio 218.
Essa é a história da Eva,
minha senhora de 50 anos que me procurou para tomar um chá em casa e nunca mais
saiu.
Pouco tempo após o post “Os Principais Componentes no
Timbre de uma Guitarra” a Guitar Player publicou um artigo sobre comprimento da
escala. E eu não só me toquei que havia esquecido de citar esta característica
no post, como fiquei ciente do quão
mais importante ela é do que eu realmente achava. Pra quem não leu o post vale a leitura, mas, resumindo
rapidamente, enumerei os principais aspectos que determinam o timbre de uma
guitarra me baseando na tríplice coroa: Telecaster, Stratocaster e Les Paul,
das quais derivam a enorme maioria das guitarras. Pois bem, hoje já posso dizer
que o principal componente da guitarra é o comprimento da escala e que grande
parte do que creditava ao tipo de junção do braço na verdade provém da primeira
característica. Atualizando, então:
1ª - comprimento da escala
3ª - captadores
3ª – madeira do braço e da escala
4ª – madeira do corpo
Mas como comprimento da escala
interfere tanto no som?
Para isso recomendo a leitura
deste post, mais uma vez do blog Loucos Por Guitarra, e do qual
retirei imagens que aqui estão.
No universo Fender – Gibson existem
dois comprimentos de escala: 25.5” (Fender) e 24.75” (Gibson). A primeira
diferença nítida nesta característica é que os trastes são mais próximos na
Gibson, obviamente, e a tensão das cordas é menor. Voltando à física de
colegial: quando a corda vibra, a frequência emitida é determinada pelo
comprimento da corda (distância entre o nut
ou traste da casa tocada e a ponte) e pela tensão dela. Quanto menor a tensão (drop tuning, por exemplo) ou maior o
comprimento (casas menores, por exemplo) menor a frequência (mais grave) e
vice-versa. Isso explica uma tensão menor, para a mesma afinação, nas cordas em
uma Gibson, que tem comprimento menor de escala. A tensão maior é muito mais uma questão de pegada, pois, apesar de
destacar os agudos, é muito mais sutil do que outra consequência do comprimento
da escala que será tratada aqui.
Acontece que não é apenas a frequência
principal que é emitida por uma corda, e sim várias outras que são múltiplas
dela, chamadas harmônicos (mais agudas, de menor comprimento de onda) e que são
a chave do timbre. Instrumentos diferentes destacam harmônicos diferentes e
que, por consequência, nos permite diferenciar um Lá de um piano e de um
violão, por exemplo.
Como mostra o desenho acima, esses harmônicos aparecem com amplitude (volume da frequência) diferentes dependendo da região da corda, ou seja, são mais perceptíveis em diferentes regiões dela. Por isso, que captadores da ponte e do braço apresentam timbres tão distintos. (1) O comprimento da escala, então, determina qual a distância entre essas regiões, quanto menor, mais juntas e vice-versa. Assim, para uma mesma região, o conjunto dos volumes dos diferentes harmônicos, que nós entendemos como timbre, será muito diferente se o comprimento das escalas analisadas também o for.
(2) Seguindo essa lógica, quanto maior a região analisada, maior será a amplitude de graves. Isso acontece porque o comprimento de onda das frequências mais altas (comprimento de onda menor) é geralmente menor que o comprimento da região analisada, de forma que estaremos captando nela tanto amplitudes maiores (picos e vales) quanto menores (nós) destas frequências, algo que não se aplica para frequências graves. (3) Por fim, outro fator que corrobora com essa diferença é o tamanho do captador, pois suas dimensões determinam a área da corda, ou região, que será captada. A partir destas três afirmações conseguimos entender melhor porque as Fender soam mais abertas/ magras/ agudas e as Gibson mais fechadas/ gordas/ graves. Nas Fender, o comprimento de escala é maior (harmônicos estão mais espaçados = timbre mais aberto), o captador é menor (região menor = menos graves captados) e single (agudos). Nas Gibson o comprimento de escala é menor (harmônicos estão mais juntos = timbre mais fechado), o captador é maior (região maior = mais graves captados) e humbucker(mais graves). Não à toa, quando Seth Love foi chamado pela Fender para desenvolver uma versão de humbucker para a marca, optou por um captador de dimensões maiores que os humbucker que havia desenvolvido para as Gibson, pois a escala 25.5", de harmônicos mais espaçados, necessita de uma região de captação maior para obter os mesmo harmônicos da escala 24.75" da Gibson.
Wide Range Humbucker (à esquerda, desenvolvido por Seth Love à Fender) e humbucker comum (à direita - desenvolvido por Seth Love à Gibson)
O comprimento da escala, portanto, é, ao meu ver, o item mais importante no timbre de uma guitarra. Peço perdão pela má redação da lógica física por detrás, mas qualquer dúvida estamos à disposição.
Olá pessoal, é com honra que eu trago
a vocês um jovem e grande guitarrista e “timbrista” do cenário paulistano: Éder
Martins.
Conheci o Éder em uma festa na USP em
que ele estava tocando com sua banda Electric Hendrix Tribute no Palco do Lago
(esse lugar merece um post próprio).
A semelhança física com o maior guitarrista de todos os tempo, o visual à
caráter (incluindo uma strato branca de escala clara à lá a de Woodstock) e a performance da banda foram
extremamente marcantes. Com certeza um dos maiores shows que vi na faculdade.
Mais tarde, com o sucesso do projeto Jazz na Kombi, o vi novamente em grandes
performances, desta vez na minha timeline
do Facebook. A cartada final foi ver algumas fotos em que ele empunhava duas
dais mais lindas guitarras vintage
brasileiras que já: entrevistá-lo se tornou obrigação.
Guitarra
Timbrada:
Éder, seu currículo é extenso tanto em
formação quanto em carreira. Nos fale da sua trajetória como estudante de
guitarra e como guitarrista.
Éder
Martins:
“O
interesse pela guitarra começou na adolescência: o meu irmão mais velho tocava
violão, daí quando ele não estava tocando eu pegava o violão escondido (rs) e foi
assim que aprendi a dedilhar os primeiros acordes. Ainda nessa época fiz
algumas aulas particulares com professores da minha cidade.
Alguns
anos depois entrei para o coral da cidade e comecei a estudar canto coral, depois
canto lírico e depois ingressei no CDMCC (Conservatório Musical Dr. Carlos de
Campos de Tatuí) agora sim no curso de Guitarra.
As
atividades que exercia profissionalmente nessa época era dar muitas aulas de
guitarra e violão, tocar e cantar numa banda de Heavy Metal, às vezes, fazia
também violão e voz pelos bares da região.
Depois
que saí do Conservatório, me mudei pra São Paulo, continuei minhas atividades
com aulas particulares e toquei em bandas de Rock, MPB e Psicodélicas.
Em
2009, um ano depois que vim pra São Paulo, formei a Banda Electric Hendrix Tribute
(Tributo à Jimi Hendrix). Atualmente, dou aulas particulares de guitarra, toco e/ou
acompanho nas bandas Tonico Reis, La Moustache e Chaiss na Mala, além da E.H.T,
claro.”
GT:
O projeto Jazz na Kombi ganhou muito
destaque no meio artístico jovem paulistano. De que forma você acha que o jazz se aproxima de suas raízes com este
projeto?
Éder
Martins:
“O
jazz, ao longo do tempo, teve seu movimento elitizado, onde só era possível
assisti-lo e apreciá-lo em grandes salas de concerto/Bares, a preços altíssimos
e consumido em maior parte pela burguesia, se esquecendo da sua origem: as
ruas, o gueto, a roça...que foi da onde surgiram os primeiros instrumentistas
que os concretizaram.
Com
o surgimento do jazz na Kombi e suas referentes bandas que participam, resgatou-se
o que foi plantado pelas raízes do jazz, ocupando ruas, praças, vielas,
favelas, e, melhor ainda, sem custo algum. Crianças, jovens e adultos
assistindo grandes concertos de grandes bandas da cena musical instrumental
paulistana, tanto de bandas novas quanto da velha guarda, além de artistas
internacionais consagrados.
Acho
que isso é o que concretiza a aproximação das minhas raízes: o resgate de um
movimento cultural e artístico priorizando a música negra e que tem de se
expandir mais e mais...”
GT:
O que você acha que mais aprendeu com
o Jazz na Kombi?
Éder Martins:
“Acho
que o reforço do espírito coletivo para realização de tal...e a troca de informações
obtidas com os músicos que participam, tanto com quem está executando quanto com quem está observando. Obs: e um
aprendizado grandioso.”
GT:
Quais são os guitarristas em que você
mais se inspira e por quê?
Éder Martins:
“Nossa!! São muitos (rs)... lá
vai: George Benson, John Mclaughlin, Wes Montgomery, Pat Metheny, Allan
Holdsworth, Joe Pass, John Scofield, Steve Vai, Jimi Hendrix, John Lee Hooker, George
Harrison, David Gilmour, Helio Delmiro, Ari Piassarollo, Kiko Loureiro, Mozart
Mello, Heraldo do Monte, Lanny Gordin, Pepeu Gomes, Tony Iommi, Fabio Leal, John
Petrucci e Toninho Horta... porque como
eu acostumei a escutar e a estuda-los,
são os principais que eu aciono em
processos de composição, mas pode ir além dos guitarristas citados. Escuto muitos
sons, barulhos, ruídos na rua e isso pode me influenciar também.”
GT:
Seus trabalhos vão muito além dos
citados, de que forma você acha que eles influenciam seu modo de tocar? Existe
algum exemplo (riff, dedilhado,
rítmico) desta(s) influência(s) no seu modo de tocar?
Éder Martins:
“Sim,
influenciam nas mais variadas formas de tocar, quer seja no timbre, quer na levada,
rítmica ou riffs e improvisos. Tem um exemplo de timbre na terceira faixa do
disco do Afrodisia, do Chaiss Quinteto, “Double Face”, principalmente lá pelos
2:58 onde começa o solo de guitarra. Acho que ficou bem próximo ao timbre de
guitarra do Allan Holdsworth. A faixa e o disco podem ser escutados no YouTube.”
GT:
Você acredita possuir alguma
“assinatura guitarrística”? Se sim, qual?
Éder Martins:
“Acredito
que sim. Acho que a voz transposta pra guitarra...a voz te expande em vários
horizontes na guitarra, seja nos fraseados ou nos acordes em aberturas e
inversões. Há quem diga que a guitarra é o instrumento mais próximo da voz.”
GT: Mudando para o assunto timbre, qual
o seu set de pedais (é fixo ou varia) e de que forma você os usa?
Érico Martins:
“Então,
alguns tempos atrás eu variava mais. No começo da E.H.T, por exemplo, eu usava
só a distorção do próprio amplificador com Wha Wha Cry Baby, e, às vezes, com
um fuzz e um delay também. Hoje eu uso um ME50, processador de efeitos da Boss,
e a forma que eu uso depende das bandas que toco. Algumas já deixo ele regulado
com os efeitos que utilizei nas gravações do disco, como nas músicas do Tonico
Reis, ou na la Moustache. Na E.H.T e no Chaiss na Mala, que são bandas mais
livres na questão de improviso, às vezes eu misturo um efeitos na hora e fica
bem louco. Na USP tem vários pássaros e eu queria reproduzir o efeito de algum
deles que ficam na praça do relógio. Consegui um som parecido num show da
E.H.T, totalmente de improviso na Boss, não programei nada...(rs)”
GT:
Qual (is) amplificador(es) você usa
(em casa e/ou apresentações) e o que gosta nele(s)?
Éder Martins:
“Em
casa um Peavey simples de 60W, mas pra estudar eu gosto mais de tocar com a
semi-acústica desligada sem amplificador ou efeitos. Gosto muito daquele timbre
do Joe Pass de alguns discos que ele gravou sem amplificador, só com a guitarra
microfonada. Em shows uso um Fender Frontman 212R, e, às vezes, um Orange Crush
60W. Do Fender, o que eu gosto mais é o timbre limpo, pois os efeitos são bem
fracos comparado aos Fender mais antigos. Do Orange eu gosto muito do som
crush, lógico que regulado no ganho, fica muito legal usar ele sem efeito, também.
A distorção do Orange também me agrada, misturado com outro efeito tipo chorus
que eu adoro! fica bem louco.”
GT:
Vi que você tem várias guitarras.
Quais são elas e o que gosta nelas?
Éder Martins:
“São
quatro: Snake Modelo Strato, Giannini Diamond, Condor Flying V (captadores trocados),
e uma strato Cort com captadores Fender Custom Shop 69. A Condor tem bastante
peso em relação ao som. Eu usava bastante ela na E.H.T afinada meio tom abaixo
e com distorção fica muito Power: as notas ressoam por muito tempo tanto melodicamente
quanto harmonicamente, e muito boa para feedbacks. Gosto muito do som limpo e
do braço dela também. A Cort também gosto muito do timbre para sons Hendrix e
algo mais funk e groove.”
GT:
Vi que você tem algumas guitarras
brasileiras vintage. De onde nasceu
esse interesse pelos instrumentos antigos?
Éder Martins:
“Exatamente,
tenho duas, a Snake 1960 e a Giannini Diamond 1968, pela paixão no som que
escuto desde moleque em bandas e timbres como: Beatles, Chuck Berry, Mutantes...
e muitas outras.”
GT:
Nos fale sobre eles, detalhes que você
gosta nelas e a história de como as adquiriu.
Éder Martins:
“A
Giannini Diamond é de 1968 e a Snake Modelo Strato é de 1960, essa última com captadores Gretsch. Gosto da
versatilidade de timbres, da pintura, do braço super confortável para a
execução. Comprei do meu
brother Rob que toca comigo e que era colecionador de guitarras vintage
brasileiras.”
GT:
Qual foi a sua apresentação favorita e
por quê?
Éder Martins:
“É
difícil lembrar (rs), mas uma delas foi na USP em 2012, na festa junina da FAU,
com a banda já extinta “Maria e os Treze”, e outra recentemente num bar na
augusta com a E.H.T. Acho que foram apresentações em que fomos além do
convencional na música.”
GT:
Para finalizar, Beatles ou Rolling Stones?
Éder Martins:
“Adoro
os dois, mas escolho Beatles, porque me acompanha desde moleque e sou
apaixonado pela música, estrutura das composições, timbres, produção, em que
cada audição é algo novo.”
Alguns trabalhos de Éder
Martins (inclusive os citados por ele) e com suas guitarras em ação:
O post de hoje é
uma compilação de pesquisas minhas, sobretudo sonoras com vídeos do YouTube,
sobre a influência de características das guitarras na determinação de seu
timbre típico. O foco é entender quais são as características mais
determinantes no timbre da guitarra, que, neste caso, decidi restringir às
Fender e Gibson de corpo sólido, no intuito de minimizar as variáveis. As
características analisadas são basicamente construção, hardware, captadores e madeiras, em ordem de relevância.
1º - Junção
do braço: esta foi a característica que considerei mais influente no timbre.
Analisando guitarras das marcas Fano e Reverend que misturam as características
de Gibson e Fender em seus modelos, aquelas que apresentam braço bolt-on, por mais que apresentassem
ponte tune-o-matic e/ou captação P90/humbucker e/ou corpo e braço em mogno
(ou similar como korina) e/ou escala
mais curta e/ou headstock angulado,
todas características das Gibson, ainda possuem um timbre mais cristalino,
transparente e brilhante das Fender. Um exemplos é a Fano SP6 uma Les Paul
Junior (podendo ser toda em mogno com escala em rosewood, como a do vídeo abaixo) com braço bolt-on e ponte e captador da ponte de
telecaster. Obviamente, fiquei restrito ao timbre do P90 do braço e é bem
verdade que a ponte colabora muito na proximidade, mas, de qualquer forma, o
timbre Fender predomina na posição braço também. Outro exemplo é a Reverend
Double Agent, com captadores P90, ponte tune-o-matic,
mas com braço bolt-on de maple, onde predomina
a Fender novamente.
Como timbre de guitarra não é uma ciência exata, não foram poucas as exceções, tal como a Revernd Charger HB, humbuckers, ponte tune-o-matic, corpo de korina e braço bolt-on em maple, cujo timbre está mais próximo de uma Gibson, e da Reverend Warhawk, captadores P90, ponte tune-o-matic, corpo de korina e braço de maple set-in com sonoridade mais Fender.
2º - Captadores:
considerados a alma das guitarras eles realmente fazem a diferença, sobretudo
se compararmos tipos diferentes, tais como singles,
P90 e humbuckers. Um exemplo é a da
Reverend Charger HB citado acima. São uma boa ferramenta pra dar um timbre mais
Gibson a sua Fender e vice-versa, mas não se sobrepõe à construção: uma Stratocaster
com PAFs continuará soando como Stratocaster e uma Les Paul com singles como uma Les Paul (não faça
isso), mas uma Stratocaster com captador da ponte de Telecaster vai te dar algo
bem próximo da última. Um exemplo é o captador para Stratocaster chamado Twang Banger, da Seymour Duncan, que, assim como os captadores da ponte de Telecaster, possui uma chapa metálica de cobre em sua base:
3º - Madeira do
braço: motivo, na minha opinião, de algumas guitarras da/tipo Gibson poderem
soar mais abertas e cristalinas, e que provavelmente, junto à captação P90 (que
é invenção da Gibson mas que é single por
definição), fez Revernd Warhawk soar mais Fender. Entretanto, em guitarras tipo
Fender essa diferença é um tanto menor, basta ouvir diversas guitarras
brasileiras de timbre semelhante que usam outras madeiras como Marfim e Imbuia.
4º - Madeira da
escala: enquanto a madeira do braço encontra-se numa zona entre média
influência no timbre, a madeira da escala se encontra na de média-baixa
influência, alterando sobretudo o ataque e a sustentação de uma faixa de
frequências mais alta ou mais baixa, tomando como base as diferenças entre maple e rosewood. Esse vídeo mostra bem a diferença.
5º - Madeira do
corpo: tão polêmica, é, para mim, de influência baixa no timbre. Apesar de um
falado estudo dizer que elas não influenciam, acredito que o primeiro se baseou
muito mais no quesito de sustain do
que no timbre especificamente, de forma que a diferença é perceptível mas menor
que as demais citadas acima. Inúmeros são os exemplos de guitarras com corpos
de outras madeiras que continuam soando como deveriam, entretanto a comparação
de madeiras com características bem distintas evidencia que a madeira do corpo
altera sim o timbre, como no vídeo do Érico Malagoli (da Malagoli
Captadores).
Conclusões: fiquei com a
impressão de que as guitarras tipo Gibson apresentam maior influência das
madeiras na sonoridade. Acredito que a angulação do headstock, que promove maior pressão das cordas sobre o braço, e o
fato do braço ser colado, que melhora a vibração do conjunto braço+corpo, tenham
interferência direta neste fator. A ponte nas Fender, entretanto, parecem ser
muito mais participativas no timbre do que a passiva tune-o-matic das Gibson: o bloco de aço da ponte das Stratocaster é
determinante na transmissão de vibração das cordas pra guitarra e a chapa de
metal da ponte das Telecaster tem forte interação magnética com o captador
desta posição. Dessa forma, acredito que para uma guitarra tipo Fender, se ela
não apresentar madeiras muito fora do espectro desejado (tal mogno que realça
muito os médio-graves e oprimi os médio agudos), o investimento em uma boa
ponte e bons captadores já te darão um resultado excelente. Madeiras
brasileiras como jacarandá, pau-marfim, para substituir o maple, ipê, para substituir o ébano, pau-ferro, algo entre
jacarandá e ébano, freijó e marupá, para substituir ash e alder, são
excelentes pedidos, sobretudo quanto ao investimento e à procedência. O cedro é
um caso à parte devido às polêmicas dos posts
do Loucos Por Guitarra. Entendo que eles não gostem devido à deficiência em
médio-agudos, talvez a faixa de frequência que é a “assinatura” das guitarras
Fender, mas creio que a comparação com ash
e alder seja um equívoco. O cedro
tende a ressaltar os médio-graves, similarmente ao mogno, porém com menos
intensidade, portanto ele deveria ser comparado justamente ao mogno, ou ser
utilizado quando se procura algo mais equilibrado e menos brilhante nas
Stratocaster e Telecaster. Este é um dos fatores, na minha opinião, que dá
qualidade e personalidade às Giannini Stratossonic e Supersonic (as que usam
corpo em cedro, claro): um timbre equilibrado sem abrir mão do cristalino e do
ataque com captadores single.
Como pode
se ver, a influência dos componentes de uma guitarra no seu timbre está longe
de ser algo fácil de se determinar e ainda mais utópico se formos considerar
nossos diferentes gostos. Essa é a minha opinião nas pesquisas que tenho feito,
qual a sua?
Deixe o seu comentário e nos vemos no próximo post!
Continuando com a série de
circuitos para guitarra temos o úlitmo post, que completa o tripé das principais
guitarras do rock: Telecaster. Vale lembrar que a guitarra em questão foi
primeiramente chamada, em 1950 de Esquire, possuindo apenas um captador na
ponte. Posteriormente, ainda em 1950, a Broadcaster, uma versão com dois
captadores foi introduzida, que mudou de nome devido a uma ação da Gretsch (que
já detinha o nome “Broadkaster”) para Nocaster, na primeira metade de 1951, e,
finalmente, Telecaster, em meados de 1951. Durante as mudanças, a Esquire
continuou sendo comercializada como uma versão de um captador da Telecaster.
Alguns desses modelos/nomes tiveram diferenças quanto ao circuito elétrico, que
veremos aqui. Os links dos circuitos estão nos subtítulos.
Apenas um
captador na ponte com chave seletora de três posições: captador da ponte
conectado ao pot de volume e em bypass com o de tone (posição 1), resultando em um timbre com maior ganho e mais
agudos, captador da ponte conectado ao pot
de ao de tone (posição 2), assim como
na posição da Telecaster, e captador da ponte conectado ao pot de volume e com tone
fixo (resistor + capacitor), resultando num timbre fechado/muddy com um pouco
de queda no volume.
Dois
captadores (ponte e braço) com chave seletora de três posições: captador da
ponte conectado ao pot de volume e ao
pot de blend (posição 1), que mistura o som do captador do braço (volume
do braço, em paralelo), captador do braço conectado ao pot de volume (sozinho e sem tone
- posição 2) e captador do braço conectado ao pot de volume e com tone
fixo (resistor + capacitor), resultando num timbre fechado/muddy com um pouco de queda no volume.
Dois
captadores (ponte e braço com chave seletora de três posições, com todas as
posições conectadas a pots master de volume e tone: captador da ponte (posição 1), captador da ponte e do braço
em paralelo (posição 2) e captador do braço (posição 3).
Dois
captadores; ponte e braço com chave seletora de quatro posições, com todas as
posições conectadas a pots master de volume e tone: captador da ponte (posição 1), captador da ponte e do braço
em paralelo (posição 2), captador do braço (posição 3) e captador da ponte e do
braço em série (posição 4 – som gordo, próximo ao de humbucker).
Circuito 3-knob Telecaster
Configuração
padrão da Telcaster com três knobs, podendo escolher 2 volumes e 1 tone ou 1 volume e 2 tones.
Telecaster
com configuração de strato: três captadores e chave de cinco posições: captador
da ponte (posição 1), captadores da ponte e do meio em paralelo (posição 2),
captador do meio (posição 3), captadores do meio e do braço em paralelo
(posição 4) e captador do braço (posição 5). Sugiro adicionar ao circuito 7-way Stratocaster, para evitar a perda
da configuração de captadores do braço e da ponte em paralelo, tão clássica da
Telecaster.
Dois captadores; ponte e braço com chave seletora de cinco
posições, com todas as posições conectadas a pots máster de volume e tone:
captador da ponte (posição 1), captadores da ponte e do braço em paralelo
(posição 2), captador do braço (posição 3), captadores da ponte e do braço em
paralelo e fora de fase (fase à 90° de diferença, posição 4) e captador do
braço com 10% menos graves que a posição 3 (posição 5).
Essa é a lista de circuitos de Stratocaster,
que encontrei nas minhas pesquisas, dos quais apenas um eu testei. São todos
para configuração clássica S-S-S com um volume dois tones (um para a ponte, um
para o meio) e chave seletora de cinco posições (lembrando que as posições 2 e
4 são associações fora de fase e em paralelo entre dois singles). Os links estão nos subtítulos:
Esta é a única modificação/circuito
que fiz na Etna (minha Strato), que consiste apenas em soldar as duas pontas de
um fio na chave seletora. Excelente solução para reduzir a estridência do meu
captador da ponte no meu amplificador.
2 Volumes e 1 Master Tone (sem link, esse é fácil de encontrar)
Nesta outra configuração temos dois
volumes e você encontra projetos que utilizam tanto volume para captadores do
braço e do meio juntos, quanto do meio e da ponte juntos. É a elétrica que
pretendo instalar na próxima vez que tiver que regular a Etna (minha Strato), porque
com isso consigo trabalhar a dinâmica da troca de captadores com o overdrive.
Trata-se de uma modificação na qual se
adiciona uma chave de duas posições tipo SPST (ou push-pull) e duas ligações entre ela e a chave de cinco posições. A chave SPST permite adicionar o captador do braço nas posições 1 e 2 (pode ser o da ponte nas posições 4 e 5, mas não está no link), ou seja,
dois timbres que não existem na configuração padrão: três captadores ao mesmo
tempo e ponte e braço ao mesmo tempo. A chave quando não acionada não altera em
nada a configuração padrão, e, mesmo quando acionada não altera as demais posições.
A chave de duas posições dá lugar à
uma de três no circuito da 7-Sound
Stratocaster. As novas conexões lhe dão novas possibilidades para além das do
circuito anterior, como posições com captadores em série. A vantagem obviamente
são 15 timbres diferentes. Em contrapartida é um circuito difícil de soldar e
de se perder enquanto toca!
Uma Stratocaster com chave seletora de
três posições com um controle master de volume e um master de tone. A knob restante corresponde a um
volume do captador do meio. Como benefício traz a possibilidade de obter os
três captadores juntos, braço e ponte juntos e de controlar a quantidade de
participação do captador do meio nas posições fora de fase (que seria a 2 e 4
da chave seletora de cinco posições). Em contrapartida, dificulta a alternância
de qualquer posição com estas citadas (não basta mais apenas mexer na chave,
mas sim girar o knob de volume do meio).
Conhecido, também, por ser a elétrica
adotada nas famosas Giannini Supersonic, o circuito troca a chave de cinco
posições por três chaves de acionamento individuais dos captadores. Novamente
traz a possibilidades inexistentes na configuração clássica (três captadores
juntos, braço e ponte juntos) porém dificulta algumas alternâncias de posição.
Além do two-band tone control já comentado no último post, a Stratocaster signature do Eric Clapton possui um
sistema de mid boost ativo (aumento
do ganho das frequências médias alimentado por bateria 9v) em um de seus
knobs.
Esta postagem é a última antes de
entrar nos circuitos elétricos de cada guitarra e também o último que entro
mais afundo no funcionamento elétrico (meu conhecimento neste setor já está no
limite). Trataremos de um tema comum a todas as guitarras com humbucker,
enquanto os próximos serão posts
individuais para Telecaster, Stratocaster e Les Paul/ES-335.
Como vimos em Circuitos elétricos em guitarras - parte I – Captadores, os humbuckers são formados por duas
bobinas. Estas possuem um entrada e uma saída. Se ambas as saídas estiverem
conectadas entre si, temos um humbucker
de 3 fios, sendo dois deles condutores (entrada e saída do circuito de duas
bobinas) e um malha (terra). A vantagem das bobinas não estarem conectadas, é
que se tem um humbucker de 4
condutores com a possibilidade de se manipular a conexão entre as saídas e
entradas das duas bobinas:
- Conectando as saídas entre si
e as entradas entre si, temos a configuração tradicional (em série).
- Timbre gordo de humbucker das Gibson
- Com a mesma conexão acima,
alternando a entrada que vai para ponte com a que vai para o potenciômetro (as
saídas vão juntas pra ponte) eu alterno a fase das bobinas (em fase e fora de
fase).
- Fora de fase: Timbre magro com o quack das Stratocaster
- Conectando a saída de uma
bobina com a entrada da outra e vice-versa, temos a configuração de duas
bobinas em paralelo.
- Timbre magro, próximo ao de um single
- Conectando apenas a saída e
entrada de uma bobinas, apenas esta irá funcionar (você pode escolher qual
delas deseja que funcione). Ou seja, um humbucker
funcionando com uma bobina só, assim como um single tradicional. Cancelar o funcionamento de uma das bobinas é
chamado splitar (brasileirismo de Split = dividir)
- Timbre magro, próximo ao de um single
Alguns guitarristas acham o timbre
em paralelo dos humbuckers mais
próximo ao de um single, com a
vantagem de manter o cancelamento do ruído, que as outras configurações não têm
(com exceção da tradicional, claro). Eu, particularmente, prefiro o Split, porque acho o em paralelo um
pouco anasalado. Vale lembrar que em ambos os casos a resistência é reduzida
praticamente à metade, com consequente queda grande de ganho/volume. Já a
configuração fora de fase vai te dar algo próximo àquele quack das posições 2 e 4 das Stratocaster. Está na dúvida de qual
das configurações é melhor pra você? Procure no YouTube que tem milhares de
vídeos comparativos! Como esse:
A mudança entre configurações
escolhidas podem ser feitas através de dois componentes diferentes (tem mais
uma mais que vai aparecer só em um post
futuro): chave de duas posições e push-pull (que é uma junção de potenciômetro
com um chave de duas posições). A vantagem do push-pull é não precisar fazer
novos furos em sua guitarra, porém é mais caro e mais difícil de soldar.
É possível se ter acesso a mais de duas
dessas quatro configurações no mesmo circuito. Não tratarei dos circuitos com
essas configurações nos próximos posts,
salvas algumas exceções, pois todas podem ser obtidas no site da SeymourDuncan. Vale lembrar que cada marca tem sua própria configuração das cores dos
fios, incluindo a Malagoli (que tanto recomendo), que só vende humbuckers de 4 condutores. Ou seja,
cuidado na hora de copiar os diagramas da Seymour Duncan com seus captadores de
outra marca!