terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Os Principais Componentes no Timbre de uma Guitarra II

Pouco tempo após o post “Os Principais Componentes no Timbre de uma Guitarra” a Guitar Player publicou um artigo sobre comprimento da escala. E eu não só me toquei que havia esquecido de citar esta característica no post, como fiquei ciente do quão mais importante ela é do que eu realmente achava. Pra quem não leu o post vale a leitura, mas, resumindo rapidamente, enumerei os principais aspectos que determinam o timbre de uma guitarra me baseando na tríplice coroa: Telecaster, Stratocaster e Les Paul, das quais derivam a enorme maioria das guitarras. Pois bem, hoje já posso dizer que o principal componente da guitarra é o comprimento da escala e que grande parte do que creditava ao tipo de junção do braço na verdade provém da primeira característica. Atualizando, então:
1ª - comprimento da escala
3ª - captadores
3ª – madeira do braço e da escala
4ª – madeira do corpo
Mas como comprimento da escala interfere tanto no som?
Para isso recomendo a leitura deste post, mais uma vez do blog Loucos Por Guitarra, e do qual retirei imagens que aqui estão.
No universo Fender – Gibson existem dois comprimentos de escala: 25.5” (Fender) e 24.75” (Gibson). A primeira diferença nítida nesta característica é que os trastes são mais próximos na Gibson, obviamente, e a tensão das cordas é menor. Voltando à física de colegial: quando a corda vibra, a frequência emitida é determinada pelo comprimento da corda (distância entre o nut ou traste da casa tocada e a ponte) e pela tensão dela. Quanto menor a tensão (drop tuning, por exemplo) ou maior o comprimento (casas menores, por exemplo) menor a frequência (mais grave) e vice-versa. Isso explica uma tensão menor, para a mesma afinação, nas cordas em uma Gibson, que tem comprimento menor de escala. A tensão maior é muito mais uma questão de pegada, pois, apesar de destacar os agudos, é muito mais sutil do que outra consequência do comprimento da escala que será tratada aqui.
Acontece que não é apenas a frequência principal que é emitida por uma corda, e sim várias outras que são múltiplas dela, chamadas harmônicos (mais agudas, de menor comprimento de onda) e que são a chave do timbre. Instrumentos diferentes destacam harmônicos diferentes e que, por consequência, nos permite diferenciar um Lá de um piano e de um violão, por exemplo.
Como mostra o desenho acima, esses harmônicos aparecem com amplitude (volume da frequência) diferentes dependendo da região da corda, ou seja, são mais perceptíveis em diferentes regiões dela. Por isso, que captadores da ponte e do braço apresentam timbres tão distintos. (1) O comprimento da escala, então, determina qual a distância entre essas regiões, quanto menor, mais juntas e vice-versa. Assim, para uma mesma região, o conjunto dos volumes dos diferentes harmônicos, que nós entendemos como timbre, será muito diferente se o comprimento das escalas analisadas também o for.
(2) Seguindo essa lógica, quanto maior a região analisada, maior será a amplitude de graves. Isso acontece porque o comprimento de onda das frequências mais altas (comprimento de onda menor) é geralmente menor que o comprimento da região analisada, de forma que estaremos captando nela tanto amplitudes maiores (picos e vales) quanto menores (nós) destas frequências, algo que não se aplica para frequências graves.
(3) Por fim, outro fator que corrobora com essa diferença é o tamanho do captador, pois suas dimensões determinam a área da corda, ou região, que será captada. 
A partir destas três afirmações conseguimos entender melhor porque as Fender soam mais abertas/ magras/ agudas e as Gibson mais fechadas/ gordas/ graves. Nas Fender, o comprimento de escala é maior (harmônicos estão mais espaçados = timbre mais aberto), o captador é menor (região menor = menos graves captados) e single (agudos). Nas Gibson o comprimento de escala é menor (harmônicos estão mais juntos = timbre mais fechado), o captador é  maior (região maior = mais graves captados) e humbucker (mais graves). 
Não à toa, quando Seth Love foi chamado pela Fender para desenvolver uma versão de humbucker para a marca, optou por um captador de dimensões maiores que os humbucker que havia desenvolvido para as Gibson, pois a escala 25.5", de harmônicos mais espaçados, necessita de uma região de captação maior para obter os mesmo harmônicos da escala 24.75" da Gibson.

Wide Range Humbucker (à esquerda, desenvolvido por Seth Love à Fender) e humbucker comum (à direita - desenvolvido por Seth Love à Gibson)
O comprimento da escala, portanto, é, ao meu ver, o item mais importante no timbre de uma guitarra. Peço perdão pela má redação da lógica física por detrás, mas qualquer dúvida estamos à disposição.

Até o próximo post!

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